segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Deutscher Geburtstag...

Ela abre os olhos lentamente como havia feito há 20 anos atrás pela primeira vez em sua vida. Respira fundo procurando ar, provavelmente o mesmo movimento de seus primeiros suspiros. Olha a sua volta e vê que no dia de 20° aniversário, não haverá aquele abraço materno que sempre esteve lá em todas as manhãs do dia 18 de novembro. Uma ligação. É a já familiar voz que a costumava despertar nesses dias, mas dessa vez em forma metálica, através de uma aparelho celular. As congratulações de aniversário chegam primeiramente a distância, como nunca havia acontecido... Ao desligar o telefone um frio na barriga. Hora de ir para a aula e esperar pelo primeiro abraço que dessa vez virá de um amigo e não de seus pais...
Estranho? Confesso que primeiramente pareceu, mas depois a situação normalizou. Para falar a verdade, o dia do seu aniversário depois de um certo tempo não é mais tão diferente dos outros dias. Quando era criança a coisa era outra. De pé às 7h para ganhar a boneca ou a bicicleta esperada e ouvir o tal "Parabéns a você". Aqui, além da distância da família e de amigos, as comemorações são diferentes. Claro que a canção de Parabéns não faltou, mas dessa vez foi em alemão.
"Sora, a Débora está de aniversário hoje", assim como faziam no colégio. "É mesmo?", resposta positiva envergonhada.... Dois chocolates de presente depois lá vem a canção "Zum Geburtstag viel Glück, zum Geburtstag viel Glück liebe Débora..." O mais engraçado é ter uma professora de alemão pilhada no dia do seu aniversário e que gosta de celebrar os costumes de sua terra. Segundo a tradição, o aniversariante deve ser colocado em uma cadeira e erguido do chão três vezes ao som de uma música "Hoch soll sie leben. Hoch soll sie leben, dreimal hoch". Lá fui eu para o alto por meio de uma
cadeira azul e os braços de uma canadense e um americano. Risadas foram inevitáveis (e o pavor também). Enfim, divertido. É bom viver exatamente os costumes de uma terra diferente em dias comemorativos, só assim tu descobre como as coisas aqui podem ser bizarras, mas engraçadas ao mesmo tempo.
Fora as cantorias, os alemães não são exatamente as pessoas mais calorosas para te dar parabéns. Abraços apertados e beijos babados na bochecha não são os seus pontos fortes quando se trata de aniversário. Claro, temos exceções. Porém o bom mesmo foi ouvir o tradicional e já ultrapassado "Feliz Aniversário" em línguas diferentes: Feliz cumpleaño, Buon Cumpleanno, Bon Anniversaire, Happy Birthday, С Днем Рождения, Χρόνια πολλά (russo e grego, minha gente. Juro que escutei, mas não sei como fala. Se estiver errado a culpa foi do Google Tradutor), Alles gut zum Geburtstag...
A festa veio um dia depois, quando a sensação estranha de cumprir o primeiro aniversário fora de casa já tinha passado. Na verdade, nem tão fora do lar, para quem já se sente em casa onde está... Sexta-feira de festejos até madrugada a dentro na WG. Bom, teria sido se não fosse pela colega de república chata que veio incomodar por causa do barulho dos jovens intercambistas. Claro, em uma república de estudantes é super raro haver uma festa em uma sexta-feira de noite, por isso tem que reclamar mesmo e expulsar todo mundo. Enfim, não nos abalamos por nada e não seria também por ela que nos abalariamos, meus caros companheiros de festa! Quando não se termina a noite na cozinha do WG, se termina no Kuckuck (ou qualquer outro lugar onde se possa dançar).
Enfim, passar o aniversário longe da sua terrinha pode ser complicado e até estranho nos primeiros minutos do seu dia, mas você tem amigos que façam esses minutos passar voando, kein Problem, como eu sempre digo. Obrigada a todos pelos desejos de Feliz Anivesário, tanto aos que vieram do Brasil quanto aos da Alemanha. Aos que não puderam me dar um abraço de aniversário, espero que ainda possa recebê-los algum dia... mesmo que não sejam mais de parabéns.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

E o muro caiu durante a noite dos cristais...

A história da Alemanha sempre foi algo que me fascinou, apesar do seu passado negro, do qual os alemães até hoje se envergonham. Guerras, holocausto, campos de concentração, divisão do país, muro e por ai vai... mas nada disso abalou meu interesse. Muito pelo contrário. Como admiradora desta história, não poderia deixar de mencionar hoje a data mais lembrada e ao mesmo tempo a que muitos desejam esquecer: der 9. November (ou o 9 de novembro).
Muitos já sabem que foi neste dia que o Muro de Berlim desabou na capital alemã e o país finalmente via as primeiras luzes que o guiavam o caminho para a reunificação. O fato aconteceu em 1989 e se tornou historicamente importante para a Bundesrepublik Deutschland. Mesmo assim, o grande acontecimento não é comemorado no dia 9 de novembro. A explicação é, de fato, simples, mas dolorosa se for dada por algum alemã. Anos antes do 9. November se tornar simplesmente o dia da queda do Muro de Berlim (Berliner Mauer), ela já fazia parte da história do país germânico.
Por meio das minhas bisbilhotadas no site Deutsche Welle (www.dw-world.de) descobri mais do que realmente sabia sobre o marcante data. Já em 1918 o social-democrata Philipp Scheidemann fazia história através deste dia. Dando adeus ao período monárquico, ele proclamava, enfim, a República na Alemanha. Cinco anos depois, na cidade de Munique outro fato histórico tomava lugar: os nacional-socialistas tentam sem sucesso dar um golpe de estado em uma passeata em direção ao pavilhão de Feldherrnhall. A frente do movimento estava nada mais nada menos que o ainda desconhecido, Adolf Hitler, na época ape
nas mais um jovem com ideias diferentes. Dez anos após o último evento de 9 de novem
bro na história alemã, o tal desconhecido toma o poder no país. Deste fato culminaria mais tarde o próximo e mais dolorosamente lembrado 9/11.
Em 1938 os judeus sofreram as primeiras fortes consequências da mentalidade nazista já consolidada no governo e no pensamento alemão. Caos, destruição, medo e angústia. Algumas das palavras que podem ter marcado o dia em que sinagogas foram incendiadas e lojas saqueadas pelas mães da raça ariana. Noite dos Cristais. Assim foi batizado o 9 de novembro, no qual cerca de 100 judeus foram assassinados e 23 mil foram levados para campos de concentração.
Não é a toa que a data comemorati
va da esperada queda do muro não é comemorada. Hoje, de fato, ninguém nas ruas parecia dar importância ao dia de hoje. O monumento em homenagem aos judeus na cidade permanecia quase invisível e intacto. Os passantes pareciam nem lembrar do seu significado. As folhas do outono caem sobre o monumento discreto de ferro com o escrito Synagogenplatz. O dia chuvoso completa o quadro melancólico da data esquecida. No final das contas, o nove de novembro continua com um ponto de interrogação no calendário de datas comemorativas alemão. Afinal, esquecer ou celebrar?Nem eu sei, já que no meu caso, o 9. November passou como mais um dia chuvoso de outono em Tübingen...

Ps: Saindo dos assuntos melancólicos, tristes e históricos, vamos para um assunto que merece ser comemorado... Parabéns ao amigo Carlos que está hoje de aniversário! Feliz cumpleños! Oder alles gut zum Geburstag!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Halloween und so weit...

Dias sem postar esperando um assunto interessante. Bom, nada de muito diferente aconteceu em Tübingen nas últimas semenas. Continuo me adaptando com as aulas em alemão e com os horários... aber alles klar. O assunto agora é o fim de semana. Depois de um feriado em casa (foi ontem o feriado, enquanto no Brasil é hoje), a recém é terça-feira. Não tem problema, a sexta-feira (quase) sempre chega animada na pequena cidade de Baden - Württemberg. A última não foi diferente.
Durante este último final de semana pude observar tipos diferentes de festas, o que já venho fazendo há algum tempo.Na sexta antes do Halloween não poderia faltar uma festa temática para aquecer as fantasias: Pornochacha Party. Was? Ja, festa da empregada erótica, em tradução do espanhol para o português. Ideia boa para comemorar um aniversário longe de casa. A boa bola foi de dois espanhóis, que não esqueceram a vestimenta. A ideia é simples: quem tiver coragem (e criatividade o bastante) vai vestido de empregada porno. Peitos de balão, avental, meia calça arrastão, vale tudo. Claro que esta que vós fala (escreve?) não teve nenhum dos requisitos para se fantasiar. Mas já digo, no Dia das Bruxas foi diferente...
Na Alemanha, assim como nos países norte-americanos, as pessoas se inspiram para o dia do ano reservado para doces ou travessuras e saem de casa com suas fantasias. Entretanto,
como uma amiga canadense observou, a fantasia dos alemães é sinônimo de horripilante. Zumbis, bruxas, fantasmas e até soldados nazistas mortos-vivos, tudo de pior no mundo dos mortos se torna traje. Bem pensado eu diria. Enquanto nós nos vestimos como se estivessemos indo para o carnaval, eles se vestem para um filme de terror. Segundo a canadense, em sua terra a coisa também não funciona assim. Lá eles se vestem com qualquer fantasia, até mesmo infantil, como de desenho animado e super-heróis... Wie uns! Enquanto eu com a minha fantasia de policial e as meninas com pijama e roupa de deusa grega não chamavam atenção, a mais feia bruxa tinha seu lugar garantido na festa. São em pequenos eventos como estes se que noto a simples diferença de costumes. Não acertei minha fantasia no Halloween, será que eles se sairiam bem no carnaval...?

PS: Sábado não deixou de ser animado (=bizarrices por ai). Depois de uma janta com pastel brasileiro (acreditem, não tem aqui) a boa ideia foi finalmente boa. Passando pelo lixo dentro da garagem do prédio de uma das cozinheiras (beijos, Dani!), um sofá velho de três lugares aguardava ansiosamente por um novo dono. Eis que eles vieram. "A gente podia levar o sofá pra frente do Kuckuck (a tal festa para onde iamos) e ficar sentados lá na frente. hahaha". Olhares cruzados: "Pilhei". Alguns passos com o sofá nas costas e pronto: sofá na frente da festa. Confesso que nem todos riram da nossa piada, assim como muitos leitores não devem estar rindo agora, mas juro que na hora foi engraçado...