segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
Pequeno relato
Os primeiros dias de novo na Europa não representaram nenhum choque cultural. Lisboa, esse foi meu primeiro destino antes de aterrissar em Tubinga. A cidade portuguesa não deixa sombras de dúvida de que a nossa colonização veio de suas mãos. Sempre tive curiosidade em saber como seria sair do país, mas continuar falando o seu próprio idioma. Admito, é confortável, faz o sentimento de lar surgir de forma mais fácil. Não só a língua, mas os gestos, a maneira de falar alto e de forma extrovertida, tudo isso faz parte de duas culturas irmãs, em meu ponto de vista. Posso dizer que a escala de três dias não deixou nada a desejar (mas admito também que o humor dos portugueses pode ser um pouco peculiar para nós, o que não deixa de ser engraçado de certa forma).
A chegada em Tübingen foi tranquila. Com o coração na boca sem saber o porquê, finalmente cheguei no lugar do qual tanto senti falta. É sempre curioso voltar para um local do qual não se faz mais parte há algum tempo. É engraçado ver que os rostos mudaram, a rotina não é mais a mesma, o teu papel na cidade não é mais o mesmo. Estudos em alemão, festas de intercambistas, viagens pela Europa, vida em WG. Essa fase já passou. Apesar de muitas coisas continuarem iguais (pra quem me conhece, sabe que eu continuo fazendo festas, por exemplo), o sentimento de pertencimento à cidade é outro. Por enquanto não sei explicar bem. Para esclarecer a minha nova vida aqui aos desavisados com quem não falei no Brasil aqui estou. Atualmente, estou morando na casa de uma amiga, a carioquinha Monique, e do famequiano Ian. Eu tenho um quarto, mas ele não é fixo. Como estou em um quarto de hóspedes que nem sempre tem vagas, fico me mudando durante a semana para onde houver lugar. O estágio ainda não começou ainda e o que fazer enquanto isso, além de por vezes se afogar no tédio? Acho que i’m kind of sitting, waiting, wishing and meeting places and people. Perdi um pouco de tempo fazendo nada, mas às vezes é bom praticar o nadismo por alguns dias (contanto que o tédio não se torne um amigo próximo). Enfim, readaptação se tornou novamente uma palavra frequente no meu vocabulário, mas acredito que não está sendo tão difícil como foi em Porto Alegre... A primeira impressão foi boa, resta ver como serão as próximas semanas.
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
A longa readaptação
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
Já era de se esperar...
quinta-feira, 19 de maio de 2011
E ali na próxima quadra...
O par de botas toca a neve e o frio penetra entre os dedos dos pés, já que o material dos tais calçados não é da melhor qualidade, mas isso não vem ao caso. O que interessa é o caminho que as duas botas vagabundas percorrem e o seu destino. Ainda é dezembro na kleine Tübingen e o inverno ainda não se foi, muito pelo contrário, a recém tomou espaço. Os pés se inclinam levemente para efetuar o movimento necessário que a pequena subida exige. Ao alto do bairro típico de estudantes e famílias alemãs se encontra um território não tão comum assim. Ao alcançar a parte alta do Französischer Viertel é preciso ainda atravessar as esquisitas construções: paredes de madeira ornamentadas com simples janelas quadradas formam o que se pode chamar de casa. A peculiaridade está em seus formatos que se assemelham com o de um trailer, aqueles que se vê nos filmes americanos em que uma família inteira viaja dentro de algo que mistura cozinha, banheiro e sala no mesmo ambiente. Exatamente isso que se encontra ao atravessar o caminho de neve e ascender a pequena montanha. A caminhada continua, ouve-se o mugido de uma vaca, aliás de duas. Um pouco mais a frente uma surpresa inesperada: um pavão. Um animal somente visto em zoológicos pode ser encontrado aqui, bem perto de você, quando se está em Tübingen. O animal de cauda imponente vive solto, como se fosse uma simples galinha a mais no galinheiro, mas essa é outra história. Hoje ele é só mais um obstáculo no caminho. Já ultrapassado, chegamos à porta de uma verdadeira casinha. A maçaneta é girada pelas mãos geladas das visitantes que ao atravessar a entrada se deparam com os olhares atentos e curiosos dos moradores.
As primeiras palavras trocadas entre as estranhas e os habitantes são em inglês, já que nenhuma das duas carrega os traços alemães. A conversa, entretanto, prossegue em um alemão desenrolado com alguns erros da parte das estrangeiras e, é claro, com a indispensável companhia de uma garrafa de cerveja para cada uma. A cena em questão se passou no bar de um lugar misterioso chamado Wagenburg. Misterioso até esse dia, em que duas estudantes curiosas (eu e minha amiga Carol Palhares) desbravaram a neve fria para descobrir o que lá havia. Wagen em alemão significa carro, veículo, e Burg seria o que se pode chamar de burgo. Nesse caso, a junção das duas palavras dá nome a um território, no qual pessoas vivem em comunidade, cada um com o seu trailer ou forma parecida de construção. Uma forma de vida alternativa é o que buscam os que ali decidem viver. Um contato próximo com a natureza, maior liberdade de se locomover, independência são algumas das razões citadas pelos moradores para explicar o por quê da escolha. Os primeiros moradores vieram em 1991 e ali permaneceram com a autorização da Prefeitura. Nada ali foi construído ilegalmente, para ali se estabelecer é necessário firmar um contrato e pagar uma parte de seu rendimento a cidade. Claro que como em todos os casos há exceções. Nem todos Wagenburg existentes na Alemanha são legalizados. Em cidades grandes, como Berlim e Stuttgart, o surgimento ilegal deste tipo de moradia se torna mais fácil.
Assim como a cidade precisa aprovar a formação de um lugar assim, quem quer morar em um Wagenburg precisa ser aceito pela comunidade. Mais ou menos como uma candidatura a uma vaga de emprego, os possíveis futuros moradores precisam atender a alguns requisitos básicos: primeiro é necessário haver um lugar para ser ocupado pelo vagão do candidato, outra condição é não possuir muitos animais e nem ter muitos filhos (confesso que não entendi exatamente o por quê, mas tudo bem), e por último toda a comunidade deve estar de acordo. Estas regras variam de Burg para Burg, mas o importante é estar de acordo com a maneira de vida e ser aceito pelos outros moradores. Imagino que para isso é necessário fazer algum tipo de “propaganda de si mesmo”, ser sympatisch und freundlich (simpático e amigável) devem ser características que constem no currículo. Depois de mais ou menos um ano de seleção é possível finalmente se mudar para o Wagenburg.
Um estilo de vida mais ecológico é o diferencial do pequeno bairro. Isso nos conta uma antiga moradora do local e também garçonete no bar da comunidade, o qual está aberto somente nas terças-feiras à noite. Com um singelo sorriso de quem não se importa em abrir sua vida aos visitantes, a senhora de 40 e poucos anos - apesar de sua pele carregar marcas de mais anos de vida - explica como funciona a vida no Wagenburg. A energia ali utilizada vem do sol, por isso os tetos solares em cima das casas, o aquecimento no inverno é feito da forma antiga, através de troncos de árvores e fogo. O mais curioso, contudo, é o uso da água e a execução das necessidades fisiológicas. A forma adotada foi a forma antiga, ou seja, fazer no meio do mato foi a forma adotada. O frio não parece incomodar, pelo visto já estão acostumados. A água potável é outro problema. Durante o ano ela pode ser retirada de um grande container, entretanto durante o inverno, os moradores são obrigados a buscá-la com amigos ou conhecidos que vivem em casas ou apartamentos comuns pelo bairro ou na cidade. Outra opção é comprar água no supermercado e carregar até em cima. Com certeza, viver dessa forma não é para qualquer idade. A moradora de óculos de aros grossos e escuros, olhos grandes e um sorriso acolhedor, apesar dos dentes já danificados, conta que ao chegar a uma idade mais avançada, a vida ali se torna complicada. Por isso, muitos moradores se mudam depois de algum tempo para uma casa ou apartamento “normal”. Esta parece ser melhor opção para alguns ao passar dos anos. Muitos moradores antigos, que mudaram seu estilo de vida, ainda voltam às terças-feiras para ver os velhos amigos e sentir de novo a atmosfera do já conhecido ambiente. Essa atmosfera que desperta curiosidade de quem não a conhece e creio que não deixa a ninguém desconfortável. Ao atravessar os portões que dividem a pequena vila do bairro de típicos estudantes e famílias, se encontra outros tipos de famílias, não tão típicos, mas satisfeitos com seu estilo de vida e dispostas a compartilhá-lo com os visitantes... Para os curiosos que moram em Tübingen, vale a pena a visita...
OBS.: As informações do post foram conseguidas durante trabalho de reportagem para um curso de alemão durante o semestre de Inverno. As visitas foram vezes algumas vezes para escrever o texto e outras somente por lazer. O resultado foi uma reportagem simples, mas com muito conteúdo elogiada pela professora. (só para me exibir um pouco). Agradeço aos amigos Carolina Palhares e Allan Kuwer que estiveram presentes na apuração. Danke schön, pessoal!
quinta-feira, 17 de março de 2011
Mudanças de roteiro
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
Lugar de silêncio, concentração e... fofocas
domingo, 2 de janeiro de 2011
Então é Natal... e Ano Novo também...
Luzes coloridas aperecem nas ruas a partir da segunda semana de dezembro, ou até da primeira. Não reparei quando exatamente elas começaram a ornamentar as típicas construções germânicas, sei apenas que elas foram as primeiras manifestações de Natal que surgiram na cidade. Desde o primeiro domingo de Advento (quatro antes do dia de 25 de dezembro), os primeiros festejos iniciam nas cidades e famílias mais típicas e cristãs. O Adventskalender (Calendário do Advento) é encontrado em algumas paredes de casas e lojas alemãs e fazem a contagem regressiva para o dia de Natal. Entretanto, durante essa contagem, não são apenas os calendários que representam a chegada do dia 25 e os enfeites nas ruas...