segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Pequeno relato

De volta em território alemão, tenho que admitir que a sensação de ver o passado no presente é um tanto estranha (ou komisch, como se diria nessa terra). Quatro meses no Brasil foram o suficiente para sentir saudades da pequena Tübingen. Admito. Não aguentei esse sentimento descrito tão bem em uma só palavra na língua portuguesa. A readaptação no país tupiniquim não é fácil, mas finalmente estava me sentindo novamente em casa quando pimba: a oportunidade de fazer um estágio de um mês em um dos jornais mais conhecidos da região de Baden-Württemberg apareceu. Apesar da pequena vontade escondida lá no fundo de ficar no Brasil, não hesitei em aceitar o Praktikum no jornal Schwäbisches Tagblatt. E cá estou, para mais uma vez contar minhas histórias e experiências nesta pequena cidade de 80 mil habitantes. Sei que talvez o tempo seja escasso para atualizar o blog (como ultimamente tem sido no Brasil), mas, como sempre prometi (e muitas vezes não cumpri), tentarei colocar algumas coisas no Komm Mit quando for possível.
Os primeiros dias de novo na Europa não representaram nenhum choque cultural. Lisboa, esse foi meu primeiro destino antes de aterrissar em Tubinga. A cidade portuguesa não deixa sombras de dúvida de que a nossa colonização veio de suas mãos. Sempre tive curiosidade em saber como seria sair do país, mas continuar falando o seu próprio idioma. Admito, é confortável, faz o sentimento de lar surgir de forma mais fácil. Não só a língua, mas os gestos, a maneira de falar alto e de forma extrovertida, tudo isso faz parte de duas culturas irmãs, em meu ponto de vista. Posso dizer que a escala de três dias não deixou nada a desejar (mas admito também que o humor dos portugueses pode ser um pouco peculiar para nós, o que não deixa de ser engraçado de certa forma).
A chegada em Tübingen foi tranquila. Com o coração na boca sem saber o porquê, finalmente cheguei no lugar do qual tanto senti falta. É sempre curioso voltar para um local do qual não se faz mais parte há algum tempo. É engraçado ver que os rostos mudaram, a rotina não é mais a mesma, o teu papel na cidade não é mais o mesmo. Estudos em alemão, festas de intercambistas, viagens pela Europa, vida em WG. Essa fase já passou. Apesar de muitas coisas continuarem iguais (pra quem me conhece, sabe que eu continuo fazendo festas, por exemplo), o sentimento de pertencimento à cidade é outro. Por enquanto não sei explicar bem. Para esclarecer a minha nova vida aqui aos desavisados com quem não falei no Brasil aqui estou. Atualmente, estou morando na casa de uma amiga, a carioquinha Monique, e do famequiano Ian. Eu tenho um quarto, mas ele não é fixo. Como estou em um quarto de hóspedes que nem sempre tem vagas, fico me mudando durante a semana para onde houver lugar. O estágio ainda não começou ainda e o que fazer enquanto isso, além de por vezes se afogar no tédio? Acho que i’m kind of sitting, waiting, wishing and meeting places and people. Perdi um pouco de tempo fazendo nada, mas às vezes é bom praticar o nadismo por alguns dias (contanto que o tédio não se torne um amigo próximo). Enfim, readaptação se tornou novamente uma palavra frequente no meu vocabulário, mas acredito que não está sendo tão difícil como foi em Porto Alegre... A primeira impressão foi boa, resta ver como serão as próximas semanas.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A longa readaptação

Caminho de olhos atentos pelas ruas escuras da noite de Porto Alegre. Afinal, a realidade mudou, é o momento de abrir os olhos. Ao meu lado, três tipos se colocam em volta de um carro. Abrem o veículo, pegam algo de dentro e o fecham. Tudo mais ou menos na velocidade de uma piscada. Um dos primeiros choques das primeiras semanas na realidade brasileira. Ônibus lotado e sem horário pra chegar, aulas que começam atrasadas na faculdade e ninguém se importa, festas estranhas com gente esquisita... estes são alguns dos outros choques.
Quando se sai da terra natal, uma adaptação complicada já é esperada e faz parte do pacote chamado intercâmbio. O que não te disseram é que a volta pode ser muito mais difícil que a ida. Da primeira vez se sabe que tem volta, da segunda não... Os amigos que conheceu lá, os momentos que passou, as ruas pelas quais caminhou ficaram para trás e talvez não os veja mais. Ou talvez demore anos para revê-los. Tudo é incerto. Só resta esperar e aceitar a situação atual: a vida voltou ao normal.
Estágio, faculdades, responsabilidades e preocupação com a carreira voltam a habitar sua mente e seu dia-a-dia. Isso deve ser o mais difícil para um intercambista que vivia um momento de despreocupação. Voltar a morar com os pais também não é fácil. É preciso dar um breve adeus a total independência.
Nas primeiras semanas, é isso que mais pesa. Depois resta a saudade. Essa palavra de grande significado que só existe na língua portuguesa e que expressa uma certa vontade de querer voltar no tempo para reviver momentos e rever pessoas. Há gente que diz que isso passa, eu espero mesmo que sim.
Aos poucos tudo volta ao seu lugar. Algumas coisas, claro, mudam no que antes se chamava de "normal". Também há boas notícias nessa confusão: provavelmente semana que vem, uma alemã venha se juntar a família Backes Barboza. A intercambista da cidade de Metzingen está passando pela mesma experiência que eu passei lá, mas acredito que com mais dificuldades (Porto Alegre pode parecer um caos para quem não a conhece bem). Talvez isso renda alguns posts para o Komm mit!... mas não posso garantir nada, já que, enfim, tudo começa a voltar ao normal.

Bem-vinda à realidade...

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Já era de se esperar...


Depois de 10 meses e 29 dias chegou o momento que eu mais temia: a hora de partir. Weggehen! Que escolha?! O tempo infelizmente não volta atrás e o acúmulo dos dias, semanas e meses só tem um resultado: a volta para a casa. Confesso todavia que o conceito “casa” me parece meio difícil de definir no caso em que me encontro. Afinal, “casa” ou “lar” é onde a gente se sente bem, à vontade e onde as pessoas que tu gosta também se encontram. E então? Prefiro deixar essa discussão de lado, se não pode chatear algumas pessoas... e até porque eu ainda não encontrei uma boa explicação... Prefiro pensar que vou trocar um lar pelo outro...
Antes disso é preciso se organizar - se possível. Entre a arrumação caótica dos quilos de roupa no armário e tralha por todo o quarto e as burocracias a serem realizadas por toda cidade, a ficha demora a cair. O choque da ida vem devagar, mas chega antes de partir, com no meu caso. As despedidas dos amigos que ficam ou que vão para países distantes do Brasil é a primeira dose de realidade. O quarto vazio com as pareces brancas e a cama desfeita é a segunda. Por fim, a porta da WG se fecha e não é mais possível abri-la. A chave não me pertence mais. Bagagens no carro e gás para longe da cidade. As ruas e os prédios pelos quais aprendi a me guiar podem ser vistos pelo espelho retrovisor... entre estes lugares ficam as lembraças de dois semestres realmente inesquecíveis.
É dificil resumir em um texto todos os momentos bons (estranhos, tristes etc etc) que passei na pequena Tübingen. Com certeza, quando se vai embora é que se nota tudo que se deixa pra trás e tudo que você deixou de fazer. Entre essa lista de coisas, postar no Blog com mais frequência é uma delas... Por isso devo me desculpar com os leitores. Vocês de fato mereciam postagens mais frequentes, isso eu reconheço. Nesta lista também ficam os lugares que não visitei, as festa que eu não fui, as pessoas que não cumprimentei na rua e com quem não conversei por alguns segundos... Fora isso, as amizades feitas e os conhecimentos adquiridos, tanto da língua como da cultura, não deixam arrependimentos.
Vocês devem entretanto manter um ponto de interrogação na cabeça. Onde anda Débora Backes, já que está fora de Tübingen, mas não no Brasil? A história é longa e tomaria mais de um post do Blog - sem falar que também não gostaria de esclarecê-la por inteiro. Defino então meu paradeiro em três palavras: casa da sogra (se assim posso chamar). Em uma pequena cidade (pequena não, minúscula mesmo) perto de Bad Kissingen vim passar meus últimos dias e, de fato, viver em uma família alemã. A palavra "sogra" deixo para explicar pessoalmente (se for o caso). Só termino dizendo: há coisas que acontecem na Alemanha e ficam na Alemanha... e outras contudo não.
Vejo vocês no Brasil!
Und bis bald Deutschland...

quinta-feira, 19 de maio de 2011

E ali na próxima quadra...

O par de botas toca a neve e o frio penetra entre os dedos dos pés, já que o material dos tais calçados não é da melhor qualidade, mas isso não vem ao caso. O que interessa é o caminho que as duas botas vagabundas percorrem e o seu destino. Ainda é dezembro na kleine Tübingen e o inverno ainda não se foi, muito pelo contrário, a recém tomou espaço. Os pés se inclinam levemente para efetuar o movimento necessário que a pequena subida exige. Ao alto do bairro típico de estudantes e famílias alemãs se encontra um território não tão comum assim. Ao alcançar a parte alta do Französischer Viertel é preciso ainda atravessar as esquisitas construções: paredes de madeira ornamentadas com simples janelas quadradas formam o que se pode chamar de casa. A peculiaridade está em seus formatos que se assemelham com o de um trailer, aqueles que se vê nos filmes americanos em que uma família inteira viaja dentro de algo que mistura cozinha, banheiro e sala no mesmo ambiente. Exatamente isso que se encontra ao atravessar o caminho de neve e ascender a pequena montanha. A caminhada continua, ouve-se o mugido de uma vaca, aliás de duas. Um pouco mais a frente uma surpresa inesperada: um pavão. Um animal somente visto em zoológicos pode ser encontrado aqui, bem perto de você, quando se está em Tübingen. O animal de cauda imponente vive solto, como se fosse uma simples galinha a mais no galinheiro, mas essa é outra história. Hoje ele é só mais um obstáculo no caminho. Já ultrapassado, chegamos à porta de uma verdadeira casinha. A maçaneta é girada pelas mãos geladas das visitantes que ao atravessar a entrada se deparam com os olhares atentos e curiosos dos moradores.

As primeiras palavras trocadas entre as estranhas e os habitantes são em inglês, já que nenhuma das duas carrega os traços alemães. A conversa, entretanto, prossegue em um alemão desenrolado com alguns erros da parte das estrangeiras e, é claro, com a indispensável companhia de uma garrafa de cerveja para cada uma. A cena em questão se passou no bar de um lugar misterioso chamado Wagenburg. Misterioso até esse dia, em que duas estudantes curiosas (eu e minha amiga Carol Palhares) desbravaram a neve fria para descobrir o que lá havia. Wagen em alemão significa carro, veículo, e Burg seria o que se pode chamar de burgo. Nesse caso, a junção das duas palavras dá nome a um território, no qual pessoas vivem em comunidade, cada um com o seu trailer ou forma parecida de construção. Uma forma de vida alternativa é o que buscam os que ali decidem viver. Um contato próximo com a natureza, maior liberdade de se locomover, independência são algumas das razões citadas pelos moradores para explicar o por quê da escolha. Os primeiros moradores vieram em 1991 e ali permaneceram com a autorização da Prefeitura. Nada ali foi construído ilegalmente, para ali se estabelecer é necessário firmar um contrato e pagar uma parte de seu rendimento a cidade. Claro que como em todos os casos há exceções. Nem todos Wagenburg existentes na Alemanha são legalizados. Em cidades grandes, como Berlim e Stuttgart, o surgimento ilegal deste tipo de moradia se torna mais fácil.

Assim como a cidade precisa aprovar a formação de um lugar assim, quem quer morar em um Wagenburg precisa ser aceito pela comunidade. Mais ou menos como uma candidatura a uma vaga de emprego, os possíveis futuros moradores precisam atender a alguns requisitos básicos: primeiro é necessário haver um lugar para ser ocupado pelo vagão do candidato, outra condição é não possuir muitos animais e nem ter muitos filhos (confesso que não entendi exatamente o por quê, mas tudo bem), e por último toda a comunidade deve estar de acordo. Estas regras variam de Burg para Burg, mas o importante é estar de acordo com a maneira de vida e ser aceito pelos outros moradores. Imagino que para isso é necessário fazer algum tipo de “propaganda de si mesmo”, ser sympatisch und freundlich (simpático e amigável) devem ser características que constem no currículo. Depois de mais ou menos um ano de seleção é possível finalmente se mudar para o Wagenburg.

Um estilo de vida mais ecológico é o diferencial do pequeno bairro. Isso nos conta uma antiga moradora do local e também garçonete no bar da comunidade, o qual está aberto somente nas terças-feiras à noite. Com um singelo sorriso de quem não se importa em abrir sua vida aos visitantes, a senhora de 40 e poucos anos - apesar de sua pele carregar marcas de mais anos de vida - explica como funciona a vida no Wagenburg. A energia ali utilizada vem do sol, por isso os tetos solares em cima das casas, o aquecimento no inverno é feito da forma antiga, através de troncos de árvores e fogo. O mais curioso, contudo, é o uso da água e a execução das necessidades fisiológicas. A forma adotada foi a forma antiga, ou seja, fazer no meio do mato foi a forma adotada. O frio não parece incomodar, pelo visto já estão acostumados. A água potável é outro problema. Durante o ano ela pode ser retirada de um grande container, entretanto durante o inverno, os moradores são obrigados a buscá-la com amigos ou conhecidos que vivem em casas ou apartamentos comuns pelo bairro ou na cidade. Outra opção é comprar água no supermercado e carregar até em cima. Com certeza, viver dessa forma não é para qualquer idade. A moradora de óculos de aros grossos e escuros, olhos grandes e um sorriso acolhedor, apesar dos dentes já danificados, conta que ao chegar a uma idade mais avançada, a vida ali se torna complicada. Por isso, muitos moradores se mudam depois de algum tempo para uma casa ou apartamento “normal”. Esta parece ser melhor opção para alguns ao passar dos anos. Muitos moradores antigos, que mudaram seu estilo de vida, ainda voltam às terças-feiras para ver os velhos amigos e sentir de novo a atmosfera do já conhecido ambiente. Essa atmosfera que desperta curiosidade de quem não a conhece e creio que não deixa a ninguém desconfortável. Ao atravessar os portões que dividem a pequena vila do bairro de típicos estudantes e famílias, se encontra outros tipos de famílias, não tão típicos, mas satisfeitos com seu estilo de vida e dispostas a compartilhá-lo com os visitantes... Para os curiosos que moram em Tübingen, vale a pena a visita...

OBS.: As informações do post foram conseguidas durante trabalho de reportagem para um curso de alemão durante o semestre de Inverno. As visitas foram vezes algumas vezes para escrever o texto e outras somente por lazer. O resultado foi uma reportagem simples, mas com muito conteúdo elogiada pela professora. (só para me exibir um pouco). Agradeço aos amigos Carolina Palhares e Allan Kuwer que estiveram presentes na apuração. Danke schön, pessoal!

quinta-feira, 17 de março de 2011

Mudanças de roteiro

As folhas do calendário voam depressa levando com ela os dias, meses e momentos vividos. Entretanto, quando se esta em intercâmbio não são somente imperceptíveis datas que são levadas pelo tempo. Pessoas com as quais a convivência se tornou um costume e parte da rotina também se vão por entre estas páginas. Foram seis meses de festas, estudos, fofocas, conversas sérias, piadas, discusões, debates, momentos de cocenso e discordia. Histórias inesquecíveis com pessoas que certamente marcaram a minha estada na Alemanha. É sempre dificil se despedir. Foi assim no aeroporto Salgado Filho e assim funciona na Hauptbahnhof de Tübingen. A nova familia conquistada através dos amigos vai se transformando até não ser mais a mesma... poucos rostos conhecidos ficam e a cidade fica novamente vazia devido ao período de férias. É assim que se torna a vida de quem fica... mas alles klar, afinal lembranças não são apagadas.
Depois de numerosas despedidas, o futuro na pequena Tübingen já começa a parecer outro. Pequenas mudanças resultam em uma talvez grande transformação. Troca de WG (república), de bairro, de amigos (sem esquecer os anti
gos)... entre todas essas pequenas alterações de rotina, a dona deste blog decidiu tomar medidas radicais e mudar de cidade. A troca não foi definitiva, somente por algumas semanas. Explorar outra cultura e aprender outra língua, estes foram os fatores que mais pesaram na decisão. Depois de passar seis meses na frígida Alemanha, coloquei a mochila nas costas e rumei para terras mais calientes: España, chicos. Às vezes é preciso mesmo mudar de ares e aprender um idioma mais fácil... Valencia pareceu o destino ideal: sol, praia e boas festas. Com três semanas de curso de espanhol e hospedagem em casa de estudantes reservada, me mandei de mala e cuia em direção a península ibérica.
A chegada foi, entretanto, um pouco caótica. A palavra chave para tal caos é Fallas, uma festa típica valenciana que se repete todos os anos. Grupos
diferentes chamados de falleros constroem suas fallas - estátuas temáticas colocadas nas calles da cidade. A festa acontece durante quatro dias de março e no final uma das fallas é escolhida como sendo a melhor. Por fim, todas são queimadas no último dia da celebração sem dó nem piedade. A vencedora naturalmente leva uma certa vantagem e tem o direito em ser a última a arder em chamas. Para quem vem do país do carnaval, o clima da festividade parece familiar. Pessoas nas ruas bebendo, cantando e dançando enquanto esperam para ver os shows de fogos de artifícios. Crianças brincam de atirar bombinhas barulhentas nos pés de quem passa distraído, enquanto os pais as observam sem preocupação. Interessante, diferente e, de certo modo, encantador.
Após as celebrações veio a hora de começar os estudos e entrar na rotina. Três semanas para acostumar-se com uma nova cultura e outro idioma. Porém brasileiro em terra de espanhol não encontra problemas em aceitar os novos costumes. As diferentes entre nós e os hermanos não são de maneira nenhuma tão gritantes quanto se imagina. Gente aberta, que fala alto e puxa conversas animadas em meio aos transportes públicos. Gente que gosta de festa, de boa comida e faz o possível para fazer quem é de fora se sentir a vontade. Até os pontos negativos têm uma certa semelhança aos nossos: trânsito caótico, ônibus cheios, insegurança em certos pontos da cidade... Realmente para um brasileiro, não é difícil se sentir em casa.
Infelizmente, depois de se acostumar chega a hora de voltar. Voltei sem reclamar. Só quando se está longe de casa por muito tempo é que se nota que Tübingen já se tornou um lar. Assim como as amizades que se foram, as novas conquistadas em Valencia não serão deixadas para trás, nem as experiências ali vividas.
E dessa forma inesperada, depois de um turbilhão de novidades, o futuro do semestre de verão começa a se tornar presente. A cidade recebe um novo cenário, com novos atores e um novo roteiro novo pronto para ser escrito. Acredito que parte dele será contado aqui...

PS: Me desculpem pela longa ausência do mundo online. Creio que isso não acontecerá de novo por tão longo tempo. :) Liebe Grüsse, Débora.

PS 2: A atualiazação foi feita no dia 17 de ABRIL, não em março como consta no início da página. Bitte ignorem os erros da falha tecnologia blogueira, os quais eu não sei explicar. :)

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Lugar de silêncio, concentração e... fofocas

Depois de uma ausência quase que forçada do Blogspot (tá, em parte foi por cansaço mesmo, eu confesso), volto a contar algumas histórias interessantes que se passam na pequena Tübingen. A mais recente dela é o motivo de minha falta de frequência no blog, principalmente nos últimos dias. Quando se chega em uma nova universidade e o semestre começa aos poucos, o cronograma do professor parece ser apenas fictício. "Para que se preocupar" pensam os desavisados que, como eu, viram o os dias no calendário passarem como vento. A época das provas chegou de forma imperceptível e abalou a rotina dos perdidos no tempo, grupo no qual eu me incluo. De pára-quedas os alunos desacostumados caem diante de uma pilha de livros e textos a ler. No Brasil o problema que talvez fosse resolvido em uma tarde, pode levar até uns três dias na Alemanha. Dicionários, anotações incertas sobre as aulas, cópias de caderno dos colegas compõe o material de estudo de um aluno em intercâmbio. O dia-a-dia começa a se alterar aos poucos, conforme se aproximam as provas. Entretanto quando se está na Alemanha as mudanças em prol do ensino, não parecem ser somente na rotina, mas também no que diz respeito a moradia...
Como muitos notaram as ruas se tornaram mais calmas e vazias, assim como os quartos das repúblicas pelo visto... Mas para onde migram os estudantes se não estão em casa e nem nas ruas? A resposta é simples, basta pensar onde se pode encontrar a maior quantidade de livros e teoricamente silêncio: obviamente que seria na Biblioteca da Universidade. Nada de estranho, afinal para encontrar a concentração perdida, esse seria o melhor lugar. Entretanto, a coisa se complica quando a maior parte da população da cidade (formada por adivinhem só... estudantes) tem a mesma ideia.
De um dia para o outro a mundaça é feita. Com sacolas cheias de livros, laptop, canetas coloridas, garrafas d'água, garrafas térmicas com chá ou café, bolachas e frutas chegam os novos inquilinos da Uni Bibliothek. Para ter o conforto de manter todo esse equipamento consigo, o segredo é chegar cedo. Encontrar lugar na sala rodeada por janelas, carinhosamente apelidada de Aquário, pode ser uma batalha e uma questão de horário: quem chega primeiro leva. Por vezes chegar às 10h da manhã não basta, os mais estudiosos chegam antes disso. A estratégia é chegar cedo e acomodar os equipamentos pelo resto do dia. Entre um gole de água e o folhar das páginas, os alunos fazem suas pausas sem, é claro, tirar os pertences da mesa. Ninguém quer perder o cobiçado lugar na Biblioteca, que em época de provas na Uni Tübingen é tão lotada quanto Carnaval no Rio. Acredite, às vezes achar um lugar livre é ouro. Exatamente por estar tão cheia, é que a Biblioteca Central se torna o ponto de encontro da galera. Entre 10 minutos de pausa e 30 de estudos, conhecidos e amigos se encontram nos corredores e arranjam um motivo para escapar dos livros. Assim a Bib (carinhosamente chamada por alguns alunos), se torna um lugar perfeito para fazer aquela social, conhecer pessoas novas e trocar fofocas sobre o final de semana. Talvez seja isso que faça os alunos permaneceram oito horas (ou mais) ali dentro. Para quem nunca teve o costume de passar a tarde dentro de uma Biblioteca estudando, o novo hábito pareceu um pouco komisch (estranho), mas a necessidade de concentração deu razão para se acostumar.
O sinal toca 15 minutos antes da Biblioteca Central fechar. Os últimos desesperados saiem com o bater das portas centenárias de madeira. A meia-noite todos os visitantes devem estar na rua a caminho de casa. No dia seguinte, a nova rotina continua para quem ainda não está de férias. Quando a última prova passa, semanas de comemorações se seguem... Agora só no próximo semestre...

domingo, 2 de janeiro de 2011

Então é Natal... e Ano Novo também...


Luzes coloridas aperecem nas ruas a partir da segunda semana de dezembro, ou até da primeira. Não reparei quando exatamente elas começaram a ornamentar as típicas construções germânicas, sei apenas que elas foram as primeiras manifestações de Natal que surgiram na cidade. Desde o primeiro domingo de Advento (quatro antes do dia de 25 de dezembro), os primeiros festejos iniciam nas cidades e famílias mais típicas e cristãs. O Adventskalender (Calendário do Advento) é encontrado em algumas paredes de casas e lojas alemãs e fazem a contagem regressiva para o dia de Natal. Entretanto, durante essa contagem, não são apenas os calendários que representam a chegada do dia 25 e os enfeites nas ruas...
Já no dia 6 de dezembro aparecem os primeiros sinais natalinos. O Nikolaustag, ou o dia de São Nicolau, data em que o tal moço vem e entrega pequenos presentes. Segundo informantes alemães, nesse dia crianças (e até adultos se duvidar) penduram suas meias decoradas onde puderem para que o bom velhinho traga-lhes alguma lembrança saborosa de pré-Natal. Sim, pelo visto Papai Noel chega mais cedo do que o esperado em terras germânicas. E quem entrega os presentes na noite entre o dia 24 e 25? Das Christkind. Na tradição cristã, o próprio menino Jesus presenteia adultos e crianças no Natal. Claro, em outras tradições é o Papai Noel mesmo que faz o admirável trabalho de descer de dirigir suas renas, descer a chaminé e etc...
Nas semanas seguintes depois do dia 6, as festas só continuam ou se intensificam. Chega o momento de montar as barraquinhas, aquecer o Glühwein (vulgo Quentão), esquentar a linguiça e o pão, e colocar a cara no tal Weihnachtsmarkt. Toda cidade alemã que se preze tem seu Mercado de Natal quando chegam os primeiros dias de Dezembro. Seja ele pequeno (como o de Tübingen), grande (Stuttgart talvez, não tive a oportunidade de ver pessoalmente), ou imenso espalhado por vários cantos da cidade (como em Berlim e Hamburgo), o Weihnachtsmarkt tem seu lugar garantido todos os anos no Adventskalender. Luzes de Natal, enfeites para o pinheiro de casa, comidas e bebidas típicas, acessórios de inverno, artesanatos são algumas das coisas que se encontram ao atravessar as ruelas dentro desse mundo natalino a parte, que surge na praça da cidade. Os corais de rua entram como a cereja no topo para completar a festividade. Jovens, crianças e adultos se unem em grupos para festejar em forma de música a data especial que se aproxima. Não somente grupos. Duplas e solos também são permitidos. Basta ter um instrumento e saber seguir a melodia natalina. Abaixo uma breve amostra dos meus achados musicais nos Mercados de Natal de Hamburg e Tübingen (perdão pela qualidade não tão boa das filmagens).


As comemorações se intensificaram e por fim chegou do dia 24 de dezembro.
Cidade quase fantasma em véspera de Natal. É o que acontece quando se vive em uma cidade universitária, já que os estudantes migram para seus lares em datas festivas e férias. Nós, longe de nossa pátria amada Brasil, continuamos aqui do jeito que dá. E mais uma vez deu certo. Apesar da distância de casa na data mais "momento família" do ano, é possível encontrá-lo nas pessoas a sua volta. Isso que fizemos na primeira ceia natalina longe do lar. Ceia com os amigos, com muita comida, conversa e risadas. Em momentos como estes é que se encontra o tal do espírito natalino. Acredito que aqui, pelo menos pelas minhas observações, o Natal
ainda tem o sentido antigo: trazer união, amor e paz as pessoas. Lojas e vendedores loucos para vender qualquer coisa na época mais lucrativa do ano não foi o que encontrei durante os dias de preparação para as festividades. Tanto que as lojas mal abrem da véspera de Natal e no dia 25 se encontram completamente fechadas. Claro que só tive uma visão geral da coisa, mas é a única que tenho até agora para compartilhar...
Já o ano novo não é tão diferente de outros lugares do mundo. Fogos de artifício, pessoas tomando champgne na virada, contagem regressiva (deve ter tido, mas a gente não escutou). Entretanto a ausência de certos costumes é inevitável. Cadê a roupa branca e a roupa íntima colorida? Nada de rosa para amor, amarelo para dinheiro, vermelho paixão, verde de esperança e etc? Nein! E nem perguntem sobre as sete ondinhas e flores para Iemanjá... Só pulamos poças de neve derretida mesmo e ficamos torcendo para que tenha o mesmo valor. Quem sabe... Bom, mas se depender das companhias na virada e no Natal, 2011 está garantido como um ano de muitas risadas, alegrias e novas experiências. E para quem ainda não sabia, anuncio agora que parte dessas experiências serão passadas aqui mesmo, na Alemanha, durante o semestre a mais que decidi permanecer... Mais tempo longe, mais saudade, aber wie immer kein Problem.
Com isso deixo aqui registrado meus melhores e mais sinceros desejos de felicidade a quem tem acompanhado a minha viagem, seja de perto, de longe, pelo blog ou pela convivência através de e-mails e skypes. Em 2011 mais histórias seram contatas, melhores ou piores... o negócio é esperar pra ver...