domingo, 26 de fevereiro de 2012

Apenas uma reflexão

Um mês pode ser pouco tempo. Para se conhecer bem alguém. Para aprender alemão. Para construir uma amizade. Para uma vida. Mas esse foi o tempo que me disponibilizaram para fazer um estágio. Confesso que se a proposta não envolvesse jornalismo e alemão, talvez eu não a tivesse aceito. Afinal, o que se pode aprender em um mês? A resposta como sempre depende da pergunta: o que se procura aprender? A ser jornalismo ou a falar alemão?
Há alguns anos o diploma de jornalista foi abolido no Brasil, o que significa que qualquer pessoa com qualquer outra formação (ou até nenhuma) pode exercer esse trabalho. Em alguns países, como na Alemanha, a coisa já é assim há algum tempo. O jornalista aqui é formado através da prática. Por meio de estágios e trabalhos voluntários, pessoas com formação em ciências políticas ou sociais, letras, retórica se familiarizam com a técnica da entrevista, conhecem o tal do Lead e aprendem a escrever reportagens decentes o bastante para serem publicadas em um jornal. Enquanto no Brasil a maioria das pessoas que trabalham em uma redação (pelo menos até agora) tem o diploma de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo em mãos, ou está a caminho de ter, na Alemanha é raro encontrar alguém com esse tipo de formação dentro dos jornais (até onde eu pude observar). Um exemplo próximo de mim, é o meu ex-colega de estágio. O estudante de Sociologia nunca havia estado em uma redação jornalística até o dia 2 de janeiro de 2012, quando começamos nosso Praktikum no Schwäbisches Tagblatt. Durante um mês pude observar um leigo se tornar quase um jornalista, pelo menos na parte prática.
Fazer perguntas para pessoas desconhecidas e escrever um bom texto para ser publicado em um periódico são coisas que podem ser aprendidas com exercício. Aprendemos técnicas de redação na faculdade e a como fazer entrevistas, mas, e acredito que muitos colegas concordarão comigo, isso se aprende principalmente no mercado de trabalho, quando o teu chefe te manda para rua fazer matéria no primeiro dia de trabalho. Pude notar que depois de apenas um mês trabalhando no jornal alemão ao lado de jornalistas experientes, meu colega já era mais desinibido para questionar fontes e um pouco mais hábil para produzir textos. Apesar de o seu aprendizado ter sido pequeno (afinal um mês é realmente pouco), uma evolução no seu “talento jornalístico”, de fato, aconteceu.
Mas prática é o bastante para formar um bom jornalista? Rapidez no momento de produzir e habilidade em lidar com pessoas são suficiente? Para mim a resposta é obviamente negativa. Jornalista não é só aquele que colhe a informação e repassa por texto, som ou imagem. Jornalista tem um papel social e um compromisso com a verdade e com a sociedade, o que deve ser colocado acima de interesses empresariais. Para isso é necessário ter um senso crítico e ético, o que separa jornalismo de comércio de informações. Já foi mais ou menos com essa ideia que eu entrei na faculdade de comunicação e a aprimorei ao longo dos últimos quatro anos. Refletir sobre o papel do jornalista na sociedade forma melhores profissionais. Acredito também que esse tipo de formação não se ganha na faculdade de sociologia, história, ciências políticas, letras. Um futuro jornalista só conhecerá seu papel e irá discutir sobre ele, se estiver em um meio acadêmico adequado para isso. Até gostaria de levantar a discussão sobre o nosso papel como profissionais da comunicação aqui, mas não quero me prolongar. O que quero discutir é o papel da universidade na formação de um jornalista. Creio que a faculdade se faz necessária para a nossa profissão, mas não para ensinar prática e sim para a formação de uma consciência crítica e ética, para levantar debates, para questionar e para, assim, formar profissionais competentes. Para cumprir esse papel, o curso de acadêmico de jornalismo também precisa sofrer reformas. Sou da opinião que as disciplinas com esse objetivo ainda são insuficientes. Não tiro a importância de se aprender a técnica, apenas vejo que o diferencial de uma faculdade de jornalismo não é ensinar a parte prática e sim fazer pensar. Afinal, este sempre foi o papel da universidade e espero que não tenha se perdido com o tempo. Acredito que esse também foi o meu diferencial diante do estudante de Sociologia que, por um acaso do destino, começou a ser chamado de repórter.
No final do estágio, percebi que o aprendizado para nós dois foi diferente. Enquanto ele desvendava o mundo complicado do jornalismo e se deslumbrava com suas descobertas sobre o nosso trabalho, eu me perdia no meio da língua alemã. Mas, Gott sei Dank, consegui me achar. Difícil dizer para quem a experiência foi mais intensa, mas que dar algum crédito a mim mesma, afinal, jornalismo em língua estrangeira não foi fácil. Aber es hat Spass gemacht.

P.s: Amanhã estou voltando para o nosso Brasil brasileiro e acredito que dessa vez é pra ficar.

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