segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Primeira semana na terra dos lobos

Foi assim que me senti no primeiro dia. Um cordeiro prestes a se deparar com lobos famintos no meio do mato. O frio na barriga era inevitável. Como andar de montanha russa pela primeira vez já sabendo o terror ocasionado pelos loopings seguidos que vêm pela frente. A incerteza de alguém que entra na sala de aula do colégio no seu primeiro dia de aula. E agora o que vem pela frente? O que essa gente vai fazer comigo? Será que vou saber me comunicar com eles antes de que eles fiquem nervosos o bastante para começar a fazer mimica?
Todas essas dúvidas rondaram a minha cabeça no dia 2 de janeiro de 2012. Cheguei às 11h na redação do jornal local de Tübingen, o Schwäbisches Tagblatt. - Schwäbisch se refere a quem vem da região da Suábia e também ao dialeto falado por eles que se assemelha um pouco ao carioquês devido ao som mais chiado. - O periódico circula pelas cidades de Tübingen, Reutlingen, Rottenburg e outras pequenissímas cidades na volta. Um jornal antigo que, se não me engano, existe desde 1945, e conhecido pelos moradores desta região, onde se encontra Tubinga. Consegui o estágio no diário por iniciativa própria, algo do qual confesso que me orgulho. Um belo dia decidi voltar pra Alemanha e enviei currículo para diversos lugares. O acaso fez com que eu parasse em Tübingen de novo, o que foi ótimo. Trabalhar como jornalista em uma cidade em que já se conhece pode ser bem mais tranquilo. Minhas tarefas no jornal? Quase como a de um estagiário em um jornal no Brasil? Pensar em pautas (ou recebê-las), entrevistar pessoas e escrever matérias. Nestas duas primeiras semanas de Folha Suábia (tradução do nome do jornal), fiz matérias pequenas, a maior parte delas acompanhada do meu colega estagiário, um estudante de sociologia muito gente fina. É engraçado trabalhar em um jornal local de uma cidade pequena, já que algumas notícias raramente sairiam em um jornal porto-alegrense. Uma delas foi a de uma árvore de avelã em uma das ruas da cidade de Derendingen, sobre a qual um leitor indignado escreveu. Sua reclamação? O desperdício das nozes que caiam no chão e ficavam lá desamparadas até que alguma animal as comece. Por que os moradores da rua onde a árvore se encontrava não as colheram e as comeram? Segundo ele, devido à ignorância do povo em não saber reconhecer uma árvore de avelã. Sim, o jornal noticiou isso. Pelo menos, tive trabalho pra fazer e ainda ganhei uma noz. Outra notícia foi sobre o 90º aniversário de um morador de alguma cidade próxima de nome difícil. Legal para conhecer histórias e praticar a língua, afinal conversar com idosos às vezes exige mais trabalho para se entender. Mas confesso que achei a notícia de importância duvidosa.
Mas a matéria que de fato ganhou fama no Facebook graças aos meus amigos corujas foi a de um mercadinho de coisas novas e usadas na cidade de Entringen. Lá me aventurei sozinha entre as barracas e os vendedores com sotaques carregados. Entrevistei quem pude e fiz um trabalho semelhante ao que já havia feito sobre a Feira do Livro de Porto Alegre em matéria para o Jornal da Estação. Voltei para a redação e escrevi o meu texto quase infantil em alemão. Apesar dos erros gramaticais, nada do texto foi modificado (o que já foi positivo). Depois de publicado, senti um alívio e de novo a sensação de orgulho por ter conseguido fazer algo, que sempre considerei ser tão difícil, completamente sozinha. Gut gemacht (bem feito, no sentido de bem executado) disse a jornalista que corrigiu a matéria. Abaixo está o link para a matéria que espero ser uma de algumas outras que virão por ai.
"Krämermarkt brachte wieder treue Kunden nach Entringen"

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